quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Trecho do Prólogo de "Luz da Lua III"

(...) - Largue sua arma, Lúcifer. - disse Enmanuel, o Primeiro Arcanjo, Primogênito de Deus. - Você não é um combatente, nunca foi. - Ele contemplava o Portador da Luz caído a seus pés com o lado direito do rosto deformado por uma queimadura que vertia sangue aos litros, destruindo sua face perfeita. A expressão do Primogênito era de pena, e seus olhos castanhos estavam tristes, assim como a curvatura de sua boca emoldurada pela barba castanha escura.
- Nem você, Enmanuel, e mesmo assim me ataca aqui, no salão do Solarium! - o chão onde Lúcifer agonizava era do Castelo Solarium, localizado no topo do universo, onde Jeová supostamente descansava.
- Você não me deixou escolha, quando derrotou nossos irmãos e invadiu a casa de nosso Pai, disposto a despojá-lo e ascender acima Dele. - a arma que o Primogênito empunhava, usada para vencer Lúcifer era um martelo de guerra feito de pura luz, tão brilhante quanto o sol assim como as paredes, o chão e o teto do castelo.
- Essa nunca foi minha intenção! - protestou Lúcifer. - Amo nosso Pai acima de tudo, e sempre amarei até o fim de minha existência eterna!
- Então o que pretendia, quando rompeu as portas do Solarium sozinho, empunhando seu florete de chamas alvas? - indagou o Primeiro Arcanjo.
- Não o escute, Enmanuel! - gritou outro Arcanjo, às portas do Solarium. Era Miguel, que chegava ferido após ser derrotado anteriormente pelas forças de Lúcifer. Ao lado dele Uriel, a Arcanjo caçula e única fêmea, de onde Deus se inspirou a criar a mulher. - Ele nada faz além de mentir e ludibriar, e sua mente pacifista será facilmente obscurecida!
- Me toma por tolo, irmão? - perguntou o Primogênito.
- Tomo-lhe por alguém que não tem a perspicácia dos guerreiros! - respondeu o Supremo General, como era conhecido o Arcanjo combatente.
- Então é isso? Serão três contra um agora? - riu Lúcifer. - E o que farão? Irão me matar? Uriel! - virou-se para a irmã, que levou a mão a boca, horrorizada com o ferimento do irmão. - Eu disse que acabaria com a tirania de Miguel e dos outros e você concordou comigo! Por que então, no momento em que lhe conclamei a lutar do meu lado, você me abandonou?
- Eu não sabia que em seu plano ardiloso incluía a invasão do aposento de nosso adorado Pai para roubar sua essência e se tornar maior do que Ele! - chorou com raiva a Arcanjo, vertendo lágrimas de fogo.
- Isto é um absur...
- Basta de suas artimanhas! - Miguel já sacava sua espada flamejante e preparava-se quando Enmanuel ergueu a mão, impedindo-o.
- Não, meu irmão. Sua punição, apesar de desgostosa para todos nós, será ainda mais severa. Assim como os que lhe acompanharam nessa sandice, será condenado a passar a eternidade às bordas do Abismo, e ali poderá criar o reino de obscuridade que quiser, até que nosso Pai desperte de seu descanso e lhe aplique a sentença definitiva, que apenas o mais perfeito dos seres é capaz de formular. (...)